Essa resenha contém spoilers!!

Hohoho! O Natal está aí, e não poderíamos deixar de falar sobre essa data.

Por isso resolvemos falar sobre Black Mirror, uma serie que foi feita para cutucar seu cérebro bem lá no fundo, e você ainda pedir mais por isso, mesmo que seja em linguagem de sinais.

Pensar numa frase que contém Black Mirror e Natal juntas parece uma piada de mau gosto, pois essa série tem a péssima mania de nos trazer um final triste e reflexivo ao mesmo tempo, e foi por isso que escolhemos falar sobre o episódio especial de Natal lançado no ano de 2014. Estamos um pouco atrasados, mas ainda não é tarde demais.

O episódio conta com dois protagonistas principais: Matt e Potter, que apesar de viverem cerca de 5 anos dentro de uma cabana no meio do nada, não são nada próximos. Tudo começa quando Potter se dá conta que é Natal, e Matt tenta persuadi-lo à contar sua história. O jogo vira e quem conta sua história é Matt, nosso protagonista falador.

A história de Matt se divide em duas partes que se complementam. Seu trabalho principal é convencer os algoritmos (que pensam ser pessoas) à fazerem um trabalho escravo para as pessoas que pagaram pelo algoritmo, o que na maioria das vezes, é ela mesma. Quem mais poderia automatizar sua casa de acordo com seus gostos de forma perfeita se não fosse você mesma? Essa é a ideia. Criar um escravo digital seu, que trabalhe para você, enquanto você nem tem ideia de que isso está acontecendo. E se o Facebook funcionasse dessa maneira, sem que você soubesse? Você abriria mão, ou aceitaria o serviço mesmo assim? Afinal de contas, um algoritmo não é um humano, então ele pode ser escravizado, mesmo pensando ser um humano?

A segunda história de Matt é sobre um hobby obscuro, onde ele com um grupo de amigos ajuda homens com baixa estima à conseguirem uma transa casual. A parte obscura nisso é justamente porque ele está dentro dos olhos da pessoa, acompanhando de perto, medindo as reações das pessoas e mentindo de forma convincente enquanto analisa cada foto postada em uma rede social. Até onde você dividiria seus “olhos”, sua formação de memórias para conseguir algo? Até onde sua intimidade e seus sentimentos são objetos à serem compartilhados?

O foco em Matt segue até a parte em que Harry, o cliente do dia, sofre tragicamente com uma falsa interpretação da garota que ele desejava. Percebemos durante o episódio as distorções que Matt causa propositalmente na história, para convencer Potter à se abrir mais com ele, ao mesmo tempo que analisa as reações do seu interlocutor e tenta persuadi-lo.

E então entramos na segunda e melhor parte, e história de Joe Potter. Joe é o típico rapaz comum apaixonado. Gosta da garota, faz o melhor que pode para ela, mas tem lá seus defeitos. Eles vivem bem até que a garota descobre estar grávida. Por algum motivo que não sabemos (até o final), Joe é bloqueado por sua namorada, o que o impede de ter qualquer tipo de interação com a garota, pois tudo que ele vê é um borrão cinzento que não se comunica por palavras.

Tudo fica pior quando ela concebe a criança, e Joe descobre que também não pode ver seu filho recém nascido, por que o bloqueio se estende à crianças também. Joe se torna uma pessoa depressiva, perseguidora e incapaz de seguir com sua vida, agindo de forma desesperada, buscando uma forma de ver sua criança.

E então temos o final, onde as grandes revelações são feitas de maneira à explodir sua cabeça. Descobrimos a verdade sobre Joe, sua ex-namorada, sua filha e seu pai. Descobrimos o porque de ele estar na casa e vemos uma amarração bem feita com o trabalho de Matt. E por fim, temos as punições pelos erros de cada um.

E você, o que pensa? As punições foram suficientes, ou extrapolaram nas medidas da justiça? O que os personagens fizeram justificaram as punições? E quanto à parte ao quesito tecnologia? As pessoas estão preparadas para receber “Olhos de Vidro” ou elas nunca deveriam receber algo do tipo? O avanço da tecnologia lhe assusta?

Black Mirror tem a capacidade de nos fazer questionar tudo isso sem que nos mostre realmente o que queremos perguntar. Ela tem a capacidade de nos aterrorizar com tudo que pode acontecer usando o nosso “espelho negro” do dia a dia e tem a capacidade de nos fazer refletir e temer o uso da tecnologia pelo lado negro das pessoa.

Feliz Natal 🙂 !

Black Mirror: White Christmas (2014, Reino Unido)

Direção: Carl Tibbets

Roteiro: Charlie Brooker

Elenco: Jon Hamm, Rafe Spall, Oona Chaplin, Natalia Tena, Janet Montgomery, Liz May Brice.
Duração: 73 min.