Sinopse: Um obra única, extremamente violenta e visceral. Considerado um clássico moderno, eleito entre os cem romances mais importantes do século XX, nunca antes editado no Brasil. Leia se estiver preparado! Narrado em primeira pessoa, sob o ponto de vista de Frank, a estreia literária do autor escocês Iain Banks polarizou a crítica e os leitores quando foi publicada, em 1984. Considerado um dos grandes romances do século XX, o livro evoca tanto O Senhor das Moscas (1954) como Precisamos Falar sobre Kevin (2003). Fábrica de Vespas consegue produzir um olhar ao mesmo tempo bizarro, imaginativo, perturbador e repleto de humor negro sobre o que se passa dentro da mente em formação de um psicopata.
“Uma morte é sempre excitante, sempre faz com que você perceba quão vivo e vulnerável está, mas quão sortudo é.”
Fábrica de Vespas não é uma leitura muito simples de ser feita, mas existe um bom motivo para que não seja. Iain traça o mundo pela ótica de uma mente extremamente doentia. Dado que o livro é um romance de formação, a relevância dele se encontra na visão totalmente distorcida de seu protagonista. Ele parece acorrentado à uma praga que se alimenta dos homens de sua família. Seu irmão Eric também é mentalmente desajustado e acabou de fugir de um hospício, o pai deles não fica para trás e tem algumas obsessões e manias excêntricas. Não há mulheres na vida de Frank e isso é bom para ele, já que deixa bem claro que as odeia. Tudo o que existe no mundo para ele são os rituais dos quais ele extrai o sentido de tudo. A existência de Frank é fortemente ditada por um engenho que ele chama de Fábrica de Vespas, que fala com ele e diz coisas sobre o amanhã. É uma máquina impiedosa, que envolve as mortes de muitas vespas. E considere-se avisado, há muitas outras mortes horrendas e cruéis de animais aqui.
Outro motivo que torna a obra não tão fácil de ser lida, é o seu subtexto pesado. Não que seja feito de maneira ruim, não o é, mas muitas coisas acontecem nas entrelinhas da narrativa . A imagem crua e gótica é bonita e implacável, a ilha onde vive Frank, descrita através de sua percepção, assemelha-se ao inabitado que é sua mente. Excetuando pelos telefones, não há sinais claros da época em a história se passa. Edifícios são descritos como se estivem apodrecendo. Os rituais de Frank também são muito interessantes. Ele brinca com a religião, descrevendo o aspecto sobrenatural de coisas cruéis, como amarrar as cabeças dos animais numa “estaca sacrificial”.
Fábrica de Vespas foi uma leitura que despertou sentimentos ambíguos em mim, ao mesmo tempo em que por muitas vezes pensei em abandonar a leitura, eu não a deixava por causa das muitas questões implícitas, que mantinham a narrativa coerente e fluída. Banks conseguiu encontrar um equilíbrio, que estranhamente, traz um ar poético para a obra. O livro exigirá que você tenha um pouco de estômago, coisas horríveis são feitas ao longo da história e nem todos serão capazes de continuar com a leitura sem que sintam-se ofendidos de alguma maneira. Por fim, temos aqui um romance arrojado e bastante desafiador que vale a pena ser encarado de frente, mesmo que nem tudo sejam rosas.
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